À Sombra da Bananeira
Desde os tempos mais remotos que nos está no sangue a necessidade de mostramos ao mundo que estamos “bem”, que somos os melhores como se precisássemos de nos sentirmos invejados. Foi assim durante a época dos descobrimentos e continua a ser ainda hoje.
Durante o séc. XVI alcançámos o estatuto de maior potência mundial, éramos um país que esbanjava riqueza por tudo que era lado, mas também éramos um país que não pensava no dia da amanha. Este pensamento transformaria a classe alta numa classe exibicionista ao ponto dos reis espalharem moedas de ouro pelas localidades que passavam quando viajavam. Sentiam-se detentores do mundo, e tal como dizem “ não há mau que dure sempre, nem bem que dure para sempre” e logo logo países como Espanha, Holanda ou Inglaterra trataram de aproveitar os nossos erros para seu benefício. Por norma, retiraríamos alguma lição disto, passaríamos a ser um povo mais cauteloso e menos apressado, porém isto arrasta-nos a outro problema que temos: esquecemo-nos muito rapidamente. Muito provavelmente se não fossemos tão amnésicos estaríamos numa situação mais confortável que a actual.
Nas últimas 3 décadas cada governo à sua maneira peculiar, tratou de transformar o nosso deficit orçamental em números cada vez mais negros. Não houve o bom senso de darmos um passo de cada vez, melhor, ninguém parou para pensar que os passos que estavam a ser dados eram bem maiores que a perna. Já nem menciono a forma como têm sido canalizadas as ajudas comunitárias, porque neste ponto o cenário ainda se torna mais lamentável. Exemplos destas atitudes pouco ou nada ponderadas, temos a compra de submarinos, a construção de estádios que na sua grande maioria se encontram as moscas, a teimosia em se insistir na construção de mais um aeroporto na zona circundante de Lisboa e da linha do TGV Lisboa - Madrid , e ainda de se tornar “feriado” a vinda do papa a Portugal. Mais que viver de aparências nos precisamos é de encarar a realidade tal como ela é, precisamos de perceber as prioridades do momento e como tal tomar as melhores decisões. Neste momento o que é imperioso é trabalhar e muito, adquirir um espírito de sacrifico e saber fazer boas opções para num futuro próximo evitar-mos dores de cabeça.
Já não vale a pena chorarmos mais pelo leite derramado, é preciso arregaçarmos as mangas e enfrentarmos o futuro que se avizinha, e para isso seria de valor uma união de todo o governo em torno do mesmo objectivo: equilibrar o deficit. Seria bem mais proveitoso do que se passar a vida a criticar, é preciso agir; já agora é de louvar a atitude do senhor Passos Coelho embora a sua intenção não tenha sido muito inocente.
Outro ponto a ter em atenção é um diálogo transparente entre o governo e os sindicatos, de modo a que estes entendam que não vivemos em tempos de exigências mas de colaboração. Certamente evitaria muito tinta nos jornais. O que evitaria também convulsões na sociedade seria que os ministros dessem o seu exemplo baixando os seus salários exorbitantes, motivando assim mais as pessoas (o que já deviam estar só por si só). E, finalmente outro aspecto não menos importante é colocar de parte obras que não se justificam no momento refiro-me ao TGV e ao aeroporto. No momento, o que nos precisamos é de estabilidade económica, de mais investimento e juros mais baixos só depois poderemos pensar em obras de tal envergadura.
Seria óptimo também que tivéssemos a consciência que não estamos assim tão bem em comparação aos gregos, é claro que os valores são outros mas, eles tem algo que nos não temos: um crescimento maior. Se formos práticos perceberemos que um país com valores de despesas menores comparativamente a outro não tem tanta , digamos assim esperança, que outro que apesar de ter mais despeças tem uma taxa de crescimento maior; uma espécie de luz ao fim do túnel.
É por países como o nosso que viveram a sombra da bananeira que a União Europeia se encontra no estado que está, e por isso eu digo se fosse alemã não viria como bons olhos ajudar “Grécias” mas, infelizmente a zona euro depende disso. Espero pelo menos que tudo isto sirva de lição para precaver futuras crises.
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